Wednesday, September 21, 2005
O Tempo..
Acende mais um cigarro…o cinzeiro a abarrotar diz a noite já vai longa. Um manto negro estende-se sobre o céu, iluminado por algumas estrelas que teimam em lá estar.
Passou os dedos pelo cabelo e esfregou a nuca. Sintomático que algo vai mal.
Esta noite é uma entre tantas. Mais uma noite em claro, insónia na certa. Está ansiosa, o coração palpita no pescoço, na testa, no peito.
Sem aguentar a agonia de estar entre quatro paredes, sai de casa a correr. Respira fundo, inala com tanta força que o peito quase rebenta. Inalando vai contendo as lágrimas. Inala e empurra-as para dentro, pelo menos por enquanto.
Sai e mete-se no carro, roda a chave e deixa-se levar pela noite, sua confidente, sua amiga e também o seu maior pesadelo.
Ainda não percebeu se a ama ou odeia. Como tudo o resto.
Parou o carro. Recosta o banco, abre a janela e olha para o tecto do carro. Liga o rádio ,mete um cd. Como qualquer mulher deprimida, escolhe a música mais triste que encontra.
Fecha os olhos, pensa numa solução. Mas não existem fórmulas matemáticas ou mágicas. A ciência borrifou-se para ela.
Acende mais um cigarro, mais uma esfregadela na nuca. Agora sim não inala, deixa as lágrimas saltarem-lhe dos olhos. Saltam, dançam, rebolam.
Sente-se numa espiral. Estonteada e confusa abre, ainda mais a janela, e mete a cabeça de fora, mas nem brisa há. Nem o tempo ajuda.
Anda há tempo demais a adiar o inevitável. Pega no telefone, escreve uma série de palavras e apaga, fica nisto uns vinte minutos.
Decide-se, escreve a mensagem e memoriza-a para a enviar mais tarde, muito mais tarde. Talvez daqui a uns anos.
É sempre a mesma coisa, nunca faz nada atempadamente, constantemente a fazer expirar os prazos da sua vida. Cobarde! Prefere sofrer do que arriscar, é ridícula esta mulher!
Roda a chave do carro e ruma até casa. Deita-se na cama e pensa em voz alta “por que não lhe disse que ele nunca foi uma chama na minha vida, mas sim o fogo”
Dá uma reviravolta na cama.
Hoje já é tarde demais!!
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